Exposição Internacional de Cartoon

Dá Trabalho saber rir

«Rir dá trabalho e o trabalho deveria dar alegria. Dá trabalho porque movimenta só na cara 18 músculos, para além dos abdominais, peitorais, dá trabalho porque sempre houve comediantes profissionais e porque, apesar de ser natural e único do Homem, exige cultura, desenvolvimento de um raciocínio filosófico-humorístico, ou seja, faz pensar. Deveria ser alegre porque para além do prazer de contribuir para a sociedade, deveria ser reconhecido, ser recompensado justamente. Mas de injustos está o Paraíso e as chefias cheio.»
As palavras são de Osvaldo Macedo de Sousa, director artístico da Humorgrafe, no catálogo da exposição internacional de cartoon «Os direitos dos trabalhadores a traço de humor», inaugurada na passada quinta-feira, no Centro de Trabalho Vitória, com a presença do Secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa.

Inserida na Campanha Nacional do PCP Lutar contra as injustiças – Exigir uma vida melhor, da exposição constam 346 trabalhos enviados por 112 artistas, oriundos de 39 países da Europa, Ásia, África e América. Estes trabalhos, que nos dão diferentes olhares críticos sobre o desemprego, os salários, a precariedade, enfim sobre a brutal exploração a que os trabalhadores estão sujeitos, têm também o mérito de confirmar mais uma vez que «o capital não tem pátria».

O carácter inédito da exposição resulta em parte da forma como surge: de um desafio lançado pelo PCP e pela Humorgrafe a cartoonistas e caricaturistas de vários pontos do globo com diferentes opções políticas e ideológicas para a apresentação de trabalhos que reflectissem o seu «olhar crítico a traço de humor» sobre as grandes questões que hoje se colocam aos trabalhadores.

No convite aos visitantes explicita-se o objectivo desta iniciativa, que é o de, «num momento de crise, de ofensiva contra direitos e de corajosas lutas de milhões de trabalhadores», «projectar a intervenção artística como parte integrante da luta em defesa dos direitos dos trabalhadores». Aliás, como afirmaria Jerónimo de Sousa nas breves palavras que pronunciou no acto de inauguração, o PCP, ao longo dos seus 89 anos de vida, sempre incorporou as componentes artística e cultural, sendo sempre também acompanhado na sua luta por homens das artes e das ciências.

Na verdade, diz Jerónimo de Sousa, as obras expostas demonstram que nestes tempos em que tudo se mercantiliza, do salve-se quem puder, de medos, há artistas comprometidos com uma visão de progresso e justiça social, com as grandes causas sociais, a democracia, a luta pelo socialismo. E este, sublinha, «é um tempo de compromisso, de compromisso e acção».
Para Jerónimo de Sousa, a exposição, não tendo uma marca partidária, tem contudo um sentido crítico contra o sistema. Por isso, não se está apenas perante uma exposição mas perante artistas que resolveram mostrar através de imagens um mundo que pode ser melhor, artistas que não se calam.

Outro aspecto realçado por Jerónimo de Sousa é o da contemporaneidade do tema. Na realidade, as obras agora apresentadas podiam tê-lo sido há 100 anos já que, afinal, a luta de classes na era contemporânea continua a ser a que desde sempre se travou contra a exploração do homem pelo homem.
Esta é, de facto, uma exposição que merece ser vista, quer pela finura do traço quer pela finura do humor, não raras vezes mais eloquente do que muito discurso. Patente ao público no Centro de Trabalho Vitória até dia 9 de Abril, o seu horário de funcionamento foi alargado, podendo agora ser visitada de segunda-feira a sábado, entre as 10h00 e as 20h00.

Vale a pena, ainda, visitá-la porque, citando de novo Osvaldo Macedo Sousa «dá trabalho saber rir, porque nos obriga a olharmo-nos no espelho e aceitar as realidades nuas; obriga-nos a ouvir a opinião dos outros, mesmo quando não concordam connosco, quando não são elogios; obriga-nos a rever se a nossa visão é mesmo a correcta. Aceitar que estamos certos ou que estamos errados é um acto de inteligência e por isso um acto de humorismo».