«….Rápido, mais depressa!»

«'Tá muito lento, mais depressa!...» afirmou imperativamente uma das 3 chefias que se encontravam junto a uma consola nas linhas de montagem. «Se calçassem umas luvas e viessem até aqui, isto andava mais depressa, sim...», pensou o operário sem dizer uma palavra enquanto terminava a operação sob o olhar atento dos supervisores para depois mandar seguir o Scirocco para a estação seguinte.
A meio da semana, já o físico se recente, a meio do dia já o cansaço alastra, a meio da operação já a "power-tool" pesa mais 1 kilo, o tempo de ciclo já tem menos 15 segundos, não pode parar a linha senão «O que é que se passa, porque é que parou?», ontem chegou a casa com dores nos pulsos, hoje levantou-se ainda de noite para apanhar o autocarro para a fábrica, engoliu o almoço, um café e um cigarro em meia-hora, quase uma hora à espera e o team-leader nunca mais chega para poder ir à casa de banho, ainda por cima como não somos perfeitos e todos nascemos com algumas falhas, no meio de tanta pressa lá foi uma ficha desligada e o chefe danado a azucrinar aos ouvidos, e mais isto e mais aquilo, etc, etc, etc e ainda por cima ter de ouvir «tá muito lento, mais rápido!»
«A administração fez saber que este ano espera produzir mais 15% que no ano anterior e num cenário generalizado de crise esta é uma muito boa perspectiva para a empresa» pensou...e de repente sentiu-se assombrado: «olha se a administração nos tem conseguido impor o banco de horas! Estávamos tramados, a este ritmo trabalhar obrigatoriamente 6 dias por semana, sem receber mais por isso, nem sequer descanso compensatório, descansar só ao domingo, ficar em casa quando eles quisessem e não quando eu precisasse, etc...» e de repente ouviu «rápido, mais depressa!»... Bolas, que exploração! Não do supervisor, é claro, pois ele também leva nas orelhas!... Bom, deixa-me concentrar. Este ano é ano de reivindicação, para este ritmo de trabalho tem que haver uma grande compensação.