O projecto, os ideais e esperança dos comunistas.

  Embora integrem e historicizem aspirações, desejos e utopias por vezes milenares, os ideais, a esperança e o projecto comunista nasceram historicamente com o capitalismo, contra o capitalismo, e pela sua superação revolucionária. Nasceram do movimento operário que, desde o seu início, integrou a inteligência revolucionária. Nasceram num processo conjunto de luta e de organização dos trabalhadores, e de investigação do mundo social. Uma das razões centrais da sua actualidade e da sua necessidade tem a ver com o facto de que o capitalismo não desapareceu.

 

  É certo que se modificou, conseguiu resistir, adaptar-se. É certo que o trabalho e a luta conseguiram sob o domínio capitalista, realizações, conquistas e possibilidades de liberdade e de desenvolvimento, mas o núcleo duro que define a natureza do capitalismo mantém-se: a exploração do homem pelo homem e as várias formas de opressão que a exploração, sempre e sempre, tem implicado.

  A ofensiva do grande capital transnacional, do imperialismo e das suas instituições internacionais, das políticas e dos governos que as executam, traduz-se designadamente no aumento brutal do desemprego nos países europeus e nos países mais ricos da Europa, na criação de um desemprego estrutural e de longa duração, na crescente precarização e depreciação do trabalho, na existência de largas faixas de trabalhadores com salários mas a viverem abaixo do limiar da pobreza, do número crescente de pessoas vítimas da marginalização e da exclusão sociais, nas tentativas de retirar direitos sociais adquiridos e de desresponsabilizar o Estado das suas funções na área da saúde, da protecção e da segurança sociais, do ensino e da educação.

  No nosso País, reflectem-se, de forma mais ou menos clara, as características do capitalismo atrás referidas. A experiência de luta do PCP mostra com particular nitidez um ponto fundamental: é que os ataques aos direitos laborais e sociais tendem sempre a ser acompanhados por ameaças à própria democracia política.

  O Governo do PS impõe o Código do Trabalho, enquanto de novo se preparam formas de manipular a representação eleitoral e de distorcer a proporcionalidade na conversão de votos em mandatos. Por isso o PCP tem insistido em que a democracia avançada por que nos batemos une, em interdependência, a democracia política, económica, social e cultural, a democracia representativa e a democracia participativa.

  Os ideais e a esperança comunistas não transportam consigo apenas a capacidade de indignação ética e o protesto mas também a organização do combate, de um combate que é aqui e agora, para hoje assim como para amanhã, e no longo prazo.

  Mantendo firmemente as características fundamentais da sua identidade e renovando-se decididamente, aprendendo tanto com os acertos como com os erros, o projecto comunista é o projecto da construção de sociedades sem exploradores nem explorados; o projecto de uma inteira, livre e fraterna cidadania de trabalhadores e povos soberanos; o projecto de criação das condições para o desenvolvimento multilateral dos indivíduos e das potencialidades criadoras do trabalho humano; o projecto de uma relação equilibrada entre a sociedade humana e o planeta terra.

  Entre outras coisas, o que nos une é esta paixão histórica pela transformação revolucionária do mundo e da vida; uma paixão que não adiamos para um futuro longínquo, porque é também ela que nos dá forças para as pequenas e grandes lutas que travamos hoje e quotidianamente. O comunismo, sabêmo-lo desde Marx, é também o movimento real de superação do actual estado de coisas, é o movimento de homens e mulheres concretos, que trabalham, se organizam e luta, que tomam nas suas mãos o seu próprio destino; que procuram, abrem e mostram o caminho para «uma terra sem amos».